Tuesday, October 30, 2007

A palavra liberdade por si só tem um valor profundo, incalculável, mas só representa verdadeiro significado quando estamos, ou nos sentimos privados da mesma, caso contrário torna-se idêntica à Lua, só nos recordamos dela quando estamos tristes, quando estamos contentes não nos lembramos que ela existe, ou raras são as vezes que partilhamos uma noite de luar fora do âmbito de uma outra palavra por vezes menosprezada, a solidão, digo privado de liberdade a quando preso numa prisão ou abismo interior.
Existem aqueles que conseguem quebrar os seus próprios limites, na minha simples opinião, aquele que consegue sair das profundezas e quebrar as barreiras do seu próprio universo, consegue saborear a liberdade no seu estado mais puro, mesmo que se encontre preso fisicamente.
È aqui talvez que eu encontro o verdadeiro significado da liberdade, é poder viver nela mas não dentro dela, é talvez um doce amargo, no entanto sei sempre o caminho de volta para a prisão interior, não por que queira mas porque existem coisas ás quais já estamos presos desde a nossa existência. No entanto a palavra por si só transmite tanta energia que podemos até respira-la.

Saturday, September 22, 2007

Há pouco tempo um homem bateu na minha porta, rosto magro, vinha pedir-me esmola, eu tinha acabado de chegar do treino de karate, estava vestido com o meu Do-gi, disse-lhe para aguardar um pouco, pois eu tinha deixado a carteira no carro, no entretanto falámos durante algum tempo contou-me algo que eu não esperava ouvir neste dia, ele tinha sido contaminado com o virus do HIV ou SIDA, olhou-me nos olhos e disse-me que também tinha praticado karate em tempos, e que por motivos de droga foi contaminado. Eu não sabia o que lhe dizer apenas que me apetecia dar-lhe todo o meu apoio mas senti que eu estava completamente sem armas para dar qualquer apoio, disse-lhe para esperar um pouco, fechei a porta, procurei nos meus livros algo para lhe dar, mas encontrei, sem ser por acaso um manual de como recitar o Gayatri Mantra um mantra hindu que recito muitas vezes quando estou em momentos que não são os melhores, neste mantra encontro sempre algo de profundo que me dá muita energia positiva, quando desci, aquela figura baixa e extremamente magra estava á porta, esperava por mim, fui ao carro e dei-lhe algumas moedas parece-me que contei quatro euros, senti que nem que lhe desse todo o dinheiro do mundo ele iria sorrir, entreguei-lhe também o guia do Gayatri Mantra.
Ele agradeceu-me com um aperto de mão vigoroso e começou a chorar. Não tive coragem para ficar diante dele, apenas me apeteceu dar-lhe um abraço. Quando olhei para trás ele tinha puxado de um lenço para limpar as lágrimas. Recordo-me de ter dito tudo de bom, recordo-me como se fosse hoje.

Friday, August 25, 2006



Todos nós temos cartas de amor no bolso, esperam que sejam abertas, lidas e relidas, esperam os olhos que passem e perpassem pelas palavras que temos para dar, aguardam os dedos em fúria para que o lacre seja quebrado.
Todos nós, temos momentos de prazer alucinados e gritos de alerta, todos nós amamos e escrevemos, não é preciso ser poeta para falar ao coração, é necessário apenas estar vivo e tropeçar no amor e na paixão.
Trago por vezes comigo algumas folhas de papel claro, tingido pelo desgaste do tempo, as palavras ficaram marcadas nas dobras das páginas, a tinta parece colar-se contra as páginas, formando desenhos abstractos, o papel adoptou um cheiro envolvente, como que antigo, uma aparência que mistura o odor da roupa com a fragrância da tinta de aparo, juntamente com o papel e umas quantas lágrimas de alegria ou tristeza, diria antes saudade.
Todos nós trazemos connosco páginas, tantas, de amor, ódio ou paixão latente. Serão elas entregues aos destinatários? Ou ficarão esquecidas na agonia do tempo? Não sei, todas elas, as cartas e as palavras, serão um dia lidas e relidas, despertadas do tempo, talvez se tornem manuscritos antigos, tornar-se-ão parte da história.
As cartas que trazemos no bolso, são fragmentos de momentos de almas, que caminham pelo mundo em determinada época do próprio mundo.

Wednesday, May 24, 2006



Após várias reflexões sobre este assunto acabo por chegar à conclusão de que o poeta não pertence a ele próprio, pertence a algo divino, ao mundo e principalmente às gerações seguintes.
Para além disso é a voz do povo, o que não se diz em voz alta ele escreve e grita para o mundo da forma mais brutal e doce que possa existir. E por incrível que pareça todo o mundo o compreende da forma que ele o escreveu.


24, Maio de 2006 Guilherme Ribeiro

Tuesday, September 27, 2005


Consumindo o que era dela foi-se um ultimo cigarro, vista ao longe parecia uma pobre mulher, velha, as mãos rugosas e ásperas.
No cinzeiro infecto despojava já as cinzas apagadas pela memória do tempo. A companheira de quarto deslocava-se numa cadeira de rodas lentamente, tinha uns oitenta anos pelo menos, parecia até que tinha parado no tempo, o tempo esse aliado da saudade.
À medida que ia dando a sopa á boca da mulher que estava acamada, surpreendeu-me os olhares indiscretos de tanta solidão...